Agora foi a Espanha. Bem pode o Rajoy dizer que é um empréstimo europeu à banca e que o Estado não precisa de ajuda. Ninguém acredita. Nem ele. Mas é assim que deve ser. Dizer sempre o contrário do que toda a gente sabe para não enervar os mercados. Mas os mercados também sabem que o que se diz não é verdade e enervam-se na mesma. A mentira é o seu modo de vida. É uma das idiossincrasias do capitalismo decadente.
Nestas alturas os nossos minúsculos comentadores esticam-se todos e aparecem aos magotes nas televisões, a opinar. O pessimista Medina e a irreversibilidade do monumental afundamento; o agastado Silva Lopes a defender, sem argumentos, a manutenção do social; o Pina Moura a debitar a cartilha capitalista como se a tivesse absorvido na adolescência; o Braga de Macedo a falar de cátedra e a dominar os insondáveis segredos do capital; o Bento a exportar saber teórico; o Borges a dizer que não disse que era preciso baixar salários, mas que isso é que era bom; o Vitorino, do alto do seu metro e meio, a dar clamorosas lições de Europa, de euro e de política; e outros, muitos outros, de que não me lembro os nomes, os rostos, o passado, as opiniões.
Se um extraterrestre aqui tivesse chegado agora sem ter qualquer informação acerca desta gente ficaria impressionado com tanto conhecimento desperdiçado e questionaria a razão pela qual não se dedicavam estes magníficos cérebros à causa pública para salvarem o país, o euro, a Grécia, a Espanha, a Europa e, quiçá, o mundo.
Mas o ET vai ficar sem resposta. E nós também. As soluções deles só valem no mundo virtual. Não têm qualquer ponto de contacto com a realidade. Porque todos partem do princípio que o raciocínio lógico, utilizando mais ou menos conhecimentos teóricos e dados estatísticos, pode ser aplicado ao capitalismo atual. E não pode. O capitalismo de casino comparado com este não passa de um jogo a feijões. Este, para além de genocida, é autodestrutivo. É letal. E altamente contagioso.
E os comentadores continuam a comentar. Só que em circuito fechado. Não acredito que eles acreditem que alguém lhes liga alguma coisa. São o alimento diário de uma comunicação social que também vive para ela própria, sem qualquer contacto com a realidade. Uns comentam, outros noticiam os comentários, outros respondem aos comentários, outros noticiam, outros comentam as notícias…e volta tudo ao princípio.
O povo, entretanto, prepara-se para mais um jogo da seleção, com esperança na grande desforra dos humilhados. Os comentadores, altaneiros, também. Depois, a vida continua.