Depois da sua anunciada morte, chegou finalmente o verdadeiro estado social.
Pelo menos, o estado social na perspetiva deste governo.
Os locais de distribuição de sopa, e de outros alimentos baratos e supostamente quentes, vão passar de 62 para 950. É preciso fazer muita sopa para tantos pobres. E a sopa também custa dinheiro. Estima-se que sejam gastos 47 milhões de euros na massificação do sistema caritativo da distribuição da sopa aos famintos.
O governo está convencido de que esta é a melhor solução para o problema. Dar de comer a quem tem fome pode ser uma atitude relevante para o conforto da alma, de quem dá, e do corpo, de quem recebe. Mas não é solução para o problema.
E esta é a questão essencial: qual é o problema?
As pessoas têm fome. Dir-me-ão os que pensam como pensa o governo.
Mas esse não é o problema. Esse é o resultado do problema.
Anos e anos de má gestão, um sistema financeiro global falsificado, patifarias inomináveis, acordos desastrosos e a economia de rastos. Eis o problema, os problemas.
O governo tem solução para eles? Não! Prefere continuar a aplicar a receita que os causadores da sua desgraça lhe prescreveu e a fazer tudo o que lhe mandam fazer. O mais certinho possível, que é muito importante ficar bem classificados nos testes trimestrais da troika.
Como não há qualquer perspetiva de que a economia possa recuperar, pelo contrário, a asfixia é cada vez mais evidente, não será difícil prever que o upgrade do sopeiral modelo se tornará insuficiente para os dez milhões que, mais tarde ou mais cedo, se transformarão em indigentes forçados.
Agora o governo poderá contrariar todos aqueles que o acusam de destruir o estado social. O governo dá, com esta medida, provas de que não é verdade que não goste do estado social. Pelo contrário, gosta tanto que um dos seus objetivos principais é o de transformar Portugal numa imensa cantina social.