É este o número do desemprego em Portugal: 800 000.
Só por si bastaria para demonstrar a incompetência dos governantes e dos patrões; a incongruência das políticas e dos mercados; a inconsistência da Europa e a decadência do capitalismo, enquanto sistema de organização económica das sociedades.
Há trinta anos, nada faria prever que, com o desenvolvimento humano e tecnológico que se estava a registar, se viesse a trabalhar mais horas, com menos direitos, e que as condições de trabalho regredissem quase como se ainda se estivesse a viver o início da primeira revolução industrial.
Hoje, utilizando tecnologia impensável há apenas umas dezenas de anos, as sociedades deveriam ter atingido um ponto de desenvolvimento, proporcionado pela produção de bens baratos e de qualidade, que permitisse o trabalho a tempo parcial generalizado e o pleno emprego.
Nada disso, no entanto, se verifica. Há desemprego, como nunca houve, e os trabalhadores são obrigados a trabalhar mais, até mais tarde e a prescindir dos direitos que conquistaram ao longo de um século.
É óbvio que tudo isto ultrapassa qualquer lógica. Porém, o poder económico e financeiro, o poder político e algum poder sindical coincidem na análise da situação e nas receitas para a ultrapassar. O que é estranho.
E, no entanto, não consegue singrar nenhuma apreciação da realidade que não se acomode à forma dominante de pensar no fenómeno e às débeis soluções propostas.
O capitalismo é corruptor por natureza. E corrompe também o pensamento e a capacidade de dissecar e criticar. É como uma droga, é tão bom ao princípio, tão fácil, mas torna-se, a pouco e pouco, uma necessidade, não podemos viver sem ele, perdemos a capacidade crítica, transforma-se no único objetivo da existência, rouba-se, mata-se por ele. E não há centros de desintoxicação ou de reabilitação.
Os oitocentos mil são o equivalente capitalista dos zombies do Casal Ventoso, são igualmente os restos de um negócio que não correu mal para todos.
A situação não vai mudar com troikas, uniões europeias, bancos centrais, empréstimos, mercados, governos ou seja lá o que for. Todas as soluções até agora propostas padecem de um pecado original: transportam em si o gene do mal que pôs o mundo neste estado.
E estes oitocentos mil em breve serão um milhão. Serão milhões. E não sabem a força que podem vir a ter. Apenas precisam de desintoxicação e de reabilitação. Só ainda não se descobriu a forma de o fazer.
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