quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Azazel contra Belzebu

Sobre a proposta de Orçamento já muito se disse. O diagnóstico do nosso futuro está feito. É um Orçamento de destruição seletiva com efeitos colaterais globais, na sociedade e no país.
O Governo trabalhou bem! Está a conseguiu aniquilar a classe média. E, com ela, a produção, o consumo, o investimento e a economia. Já tinha reduzido os pobres a pó, agora reduz a classe média - a média baixa, a média média e a média alta - a gravilha. Fininha, muito fininha.
Ironicamente, os executantes portugueses da solução final idealizada pelo capitalismo financeiro global conseguiram concretizar um dos sonhos do socialismo científico: a criação de uma sociedade sem classes. A dos pobres, claro! Na verdade, também sobrou a deles, a dos carcereiros da gigantesca prisão de escravos financeiros em que nos transformaram.
A proposta de Orçamento é a materialização legal da gula deste capitalismo destruidor. Gula, não já na aceção comum do pecado relacionado com o desejo insaciável de comida e bebida, mas, sobretudo na de egoísmo humano, no querer ter mais e mais, cada vez mais e mais.

Belzebu foi o demónio que a Binsfeld's Classification of Demons fez corresponder, em 1589, à gula. E bem! Há sempre um demónio por trás de um pecado.

Nem nos passaria pela cabeça que Belzebu não estivesse por trás daqueles que nos sacam o que temos e o que teríamos se eles não tivessem aparecido. A sua voracidade é insaciável, é uma avidez incontrolável, uma ganância sôfrega, uma gula salivante.

Mas eles preferem não querer saber que o dinheiro pelo qual matam e destroem, não existe. É fruto da sua imaginação doentia, do delírio da sua cobiça. Não é consequência da economia ou da produção, nem representa qualquer riqueza. É pura ilusão. Fortunas que não passam de bolas de sabão.
Podemos lutar contra o Governo, mas nada se resolverá se não derrotarmos Belzebu! Como assuntos de demónios devem ser resolvidos pelos demónios, recorramos ao único demónio capaz de o derrotar: Azazel, o demónio da ira.
Invoquemo-lo, pois, com muita convicção. Ira não nos falta!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Com uma pistola apontada à cabeça


Finalmente alguém da área do governo me dá razão. Já não era sem tempo.
Tenho aqui defendido que os atores principais desta peça democrática que é representada em tristes sessões contínuas, à nossa frente, são manipulados pelos bonecreiros do capitalismo financeiro mundial. Sei que muita gente pensa que este tipo de análise da realidade é excessivo e que radica numa obscura teoria da conspiração. É legítima esta opinião, mas os que não acreditam nela não conseguem interpretar melhor os fenómenos que estamos a viver nem explicar de forma convincente o que nos está a acontecer.
E, eis que se fez luz na bancada parlamentar do partido maioritário que apoia o governo: uma sua vice-presidente, declarou, em plena sessão em que se discutiam as duas moções de censura apresentadas pela esquerda, que quem lhes paga o salário é a troika.   
Mas o que nós sabemos, e que a senhora deputada parece não querer saber, é que esta troika não tem vida própria, pois é uma reles mandatária do capitalismo financeiro mundial, seu idolatrado chefe, ao qual presta contas e obedece cegamente. Portanto, no fundo, quem paga aos assalariados é o patrão.
E sabemos ainda mais: o pagamento é feito com o dinheiro que nos é roubado. Legalmente, com uma pistola apontada à cabeça.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Prisão para os ladrões de ilusões!

Esta democracia é uma treta. Está enredada num formalismo sem conteúdo. Os seus titulares valem o mesmo que ela, ou seja, nada. Não têm qualquer margem de manobra ou de liberdade para darem voz aos que os elegeram.  
Muitas vezes, confunde-se democracia com liberdade de expressão: se se pode criticar, a democracia existe. Mas esta conclusão não passa de uma equívoco. E é curioso, porque o povo pode falar, mas os que elege para falarem em seu nome não falam. Ou porque não podem ou porque não querem.
A essência da democracia perdeu-se no confronto com a realidade. A partidocracia, constitucionalmente consagrada, ajudou. E, hoje, a gestão do Estado não é exercida pelo povo, através da escolha dos seus elementos mais capazes para os representarem.
O sistema partidário, organizado de forma corporativa, matou qualquer tentativa de fazer eleger os melhores, os que o povo efetivamente quer para seus mandatários. Os aparelhos dos partidos tudo controlam e tudo corrompem. As listas que se apresentam a eleições, sejam quais forem, são imposição destes aparelhos. Que, por seu lado, são controlados por pequenos sipaios da enorme rede do capitalismo financeiro mundial, na qual ocupam o lugar mais baixo da hierarquia. Falo, obviamente nos partidos com possibilidade de chegarem ao poder dentro do sistema, ou outros estão manietados por outros lios.
Indiretamente, foi o que os manifestantes de 15 de Setembro quiseram dizer. E, talvez, os de 29 de Setembro.
A resposta dos que estão lá para nos representar e não nos representam foi a do costume e, cumprindo o plano que os seus verdadeiros patrões do capitalismo financeiro internacional, anunciaram mais medidas torturantes. E a CGTP, uma greve geral. E PCP e o BE, moções de censura. E o PS, abstenções nas moções e voto contra no Orçamento. Tudo na mesma, portanto.
Não fiquei admirado com estas reações, nem com a sondagem, segundo a qual 87% dos portugueses estão desiludidos com a democracia. Incrivelmente, os media também não. Não lhe deram qualquer relevância. Tornou-se normal prometer e não cumprir. A democracia não sobreviveria, se se dissesse sempre a verdade. E os media fazem parte do sistema.
Mas, havendo tantos desiludidos, isso quer dizer que já houve muitos com ilusões. Que lhes foram oferecidas ou vendidas. Diz o povo que quem dá e volta a tirar ao inferno vai parar. Como já vivemos no inferno, preferíamos não os ter como vizinhos.
Por isso, proponho que se criminalize o roubo de ilusões. Com pena de prisão. A cumprir em prisões especiais, transparentes, com vidro antibala. E itinerantes, para percorrerem o país em tourné.