Esta democracia é uma treta. Está enredada num formalismo sem conteúdo. Os seus titulares valem o mesmo que ela, ou seja, nada. Não têm qualquer margem de manobra ou de liberdade para darem voz aos que os elegeram.
Muitas vezes, confunde-se democracia com liberdade de expressão: se se pode criticar, a democracia existe. Mas esta conclusão não passa de uma equívoco. E é curioso, porque o povo pode falar, mas os que elege para falarem em seu nome não falam. Ou porque não podem ou porque não querem.
A essência da democracia perdeu-se no confronto com a realidade. A partidocracia, constitucionalmente consagrada, ajudou. E, hoje, a gestão do Estado não é exercida pelo povo, através da escolha dos seus elementos mais capazes para os representarem.
O sistema partidário, organizado de forma corporativa, matou qualquer tentativa de fazer eleger os melhores, os que o povo efetivamente quer para seus mandatários. Os aparelhos dos partidos tudo controlam e tudo corrompem. As listas que se apresentam a eleições, sejam quais forem, são imposição destes aparelhos. Que, por seu lado, são controlados por pequenos sipaios da enorme rede do capitalismo financeiro mundial, na qual ocupam o lugar mais baixo da hierarquia. Falo, obviamente nos partidos com possibilidade de chegarem ao poder dentro do sistema, ou outros estão manietados por outros lios.
Indiretamente, foi o que os manifestantes de 15 de Setembro quiseram dizer. E, talvez, os de 29 de Setembro.
A resposta dos que estão lá para nos representar e não nos representam foi a do costume e, cumprindo o plano que os seus verdadeiros patrões do capitalismo financeiro internacional, anunciaram mais medidas torturantes. E a CGTP, uma greve geral. E PCP e o BE, moções de censura. E o PS, abstenções nas moções e voto contra no Orçamento. Tudo na mesma, portanto.
Não fiquei admirado com estas reações, nem com a sondagem, segundo a qual 87% dos portugueses estão desiludidos com a democracia. Incrivelmente, os media também não. Não lhe deram qualquer relevância. Tornou-se normal prometer e não cumprir. A democracia não sobreviveria, se se dissesse sempre a verdade. E os media fazem parte do sistema.
Mas, havendo tantos desiludidos, isso quer dizer que já houve muitos com ilusões. Que lhes foram oferecidas ou vendidas. Diz o povo que quem dá e volta a tirar ao inferno vai parar. Como já vivemos no inferno, preferíamos não os ter como vizinhos.
Por isso, proponho que se criminalize o roubo de ilusões. Com pena de prisão. A cumprir em prisões especiais, transparentes, com vidro antibala. E itinerantes, para percorrerem o país em tourné.
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