sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O estímulo de Teseu

A Grécia vai morrendo à nossa frente. Nos televisores das nossas salas, todas as noites, depois do jantar.
Acompanhamos mediaticamente a situação, sem a querer ver, sem querer pensar nela. Sabendo que somos os próximos da fila, estamos em negação, desviamos os olhos e assobiamos para o lado. Não é nada connosco. E com o mal dos outros podemos nós bem.
O governo tenta, malabaristicamente, demonstrar que Portugal não é a Grécia. Que a situação é muito diferente. Que eles são maus e nós bons. O povo, submerso em humilhação, vê nesta aparente diferença um motivo de orgulho. Embora com fundamentos e objetivos diferentes, governo e povo parecem estar de acordo: os gregos estão pior que nós porque são piores que nós.
Nada disto faz sentido. Os governos dos países que têm sido alvo dos especuladores e dos assassinos financeiros deveriam estar unidos e falar com uma única voz. A voz da razão, dos direitos fundamentais, da luta contra a iniquidade, da defesa dos direitos das pessoas e da sobrevivência dos países e da dignidade dos seus povos.
A solidariedade popular transnacional deveria impor-se à observação narcisista do umbiguismo nacional e o povo compreender que não somos melhores que os gregos. Somos, na miséria a estamos subjugados, iguaizinhos aos gregos. Somos as vítimas de um sistema obsceno que se alimenta das nossas vidas, que nos rouba a esperança e nos esmaga o futuro. Sejamos portugueses ou gregos.
Não podemos esperar que os governos, o português ou o grego, nos libertem da servidão que nos foi imposta. Nunca o fariam e não estão no poder para isso.
Resta-nos, enquanto povo, lutarmos em conjunto com os outros povos, para o desmantelamento do sistema que nos conduziu à ruína. Em Lisboa ou em Atenas.
Quando a Grécia sofre, deveríamos sofrer com ela. Quando a Grécia luta, deveríamos reforçar a sua luta. Estamos do mesmo lado da barricada. Enquanto não percebermos isso, seremos sempre um alvo mais fácil. Os algozes agradecem.
Teseu, rei de Atenas, faz-lhes muita falta. Convenceu Hércules, que pensava suicidar-se, de que isso seria um erro e encorajou-o a seguir em frente e a lutar.
Todos juntos, gregos e portugueses, temos a força de Hércules. Que Teseu nos dê estímulo. É só o que nos falta.

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