Muito se tem escrito, e reclamado, nos últimos dias por os técnicos do FMI já cá estarem a ajudar o governo a cortar na despesa pública.
Não sei qual é a admiração. Eles já mandaram no Orçamento de 2012 e fizeram o de 2013. A diferença é que o governo, que durante este tempo ainda tentou enganar-nos dando a ideia de que, efetivamente, é quem decide, perdeu a vergonha e assume, definitivamente, que não passa de um fantoche nas mãos do capital financeiro internacional. E pede o apoio do PS. O que, parecendo estranho, pois o PS está na oposição e votou contra este orçamento, não deixa de ser coerente. Esta é também uma ordem que tem de cumprir, pois, na lógica do FMI, é tudo farinha do mesmo saco, e quanto mais farinha, melhor.
O governo, ameaçando mais uma vez com a catástrofe iminente, agradece a salvação proposta pelo FMI, e lava as mãos das decisões criminosas que vai tomar.
A destruição da democracia vai somando vitórias, arrasando, à sua passagem, o estado social e aniquilando tudo o que contribuiu para que os portugueses tivessem atingido nas últimas décadas alguma dignidade enquanto seres humanos.
Os tipos vieram para cortar. Mas cortar em quê? Nos juros da dívida não será, com certeza. E esta seria a única despesa em que se poderia cortar. Porque, não sendo justa, é o garrote que estrafega a economia. Tudo o que se consegue produzir é diretamente engolido pelo monstro.
É o que, historicamente, acontece aos que perdem as guerras. Depois de derrotados, humilhados e exangues, os vencedores ainda lhes exigem, sadicamente, mais sacrifício, mais sofrimento, mais humilhação.
Portugal foi arrastado para a Europa no vórtice obsessivo da integração como catarse da descolonização. Sugado pela sedução do estado social que dignificasse os portugueses, aviltados e condenados à pobreza pelo autoritarismo repressivo do anterior regime, Portugal acabou por cair nas mãos do capitalismo financeiro internacional, sem pena nem glória.
Enquanto alguns se iam entretendo com umas cenouras, o aparelho produtivo foi destruído em nome da modernização e da integração. Os especuladores iam dando crédito ilimitado ao Estado e aos bancos, e estes, faziam as suas negociatas, num trapézio sem rede, fiando-se na imensa multidão que, por baixo deles, ululavam e se digladiavam divertidamente pelas migalhas que caiam.
O crédito acabou, os agiotas rondam a porta do circo e o sonho de um moche em câmara lenta, amparado pela turba, desfez-se. O circo está sitiado e os trapézios arrumados. A multidão, já nas bancadas, volta, por vezes, à arena para apupar os trapezistas que tentam, desesperadamente, sair pela cúpula da tenda, deslizarem para o exterior e juntarem-se aos seus amos.
O que não sabem é que o escorrega vai dar diretamente à jaula dos leões. Ainda bem!
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