quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Astérix e os curandeiros da Lusitânia


O FMI. Sempre o FMI. Ele são relatórios. São estudos. São pareceres. São opiniões. Ora é a chefe. Ora é o superintendente para a Lusitânia. Ora são os capatazes. Ou até os sipaios. Todos têm alguma coisa a dizer, a recomendar, a propor, a ordenar, a sugerir, a mandar. Andam numa azáfama permanente à volta do moribundo, a ministrar mezinhas e a vê-lo definhar.
São curandeiros ardilosos que vivem da ignorância dos simples. Convencem os crédulos de que as ervas e os unguentos estão a resultar, enquanto esvaziam a casa de porcelanas, ouro e prata. Calmamente, peça a peça. O doente mirra, quase morre, e eles leem o futuro em entranhas de cabritos sacrificados para as cerimónias.
Veja-se o caso da anunciada reforma do Estado? O governo, mais uma vez cobardemente, pediu ao FMI que o substituísse nos propósitos desonestos de destruição do Estado. Vieram uns tipos a Lisboa, falaram com ministros e secretários de estado, voltaram à terra deles e, dois meses depois, entregaram o relatório. Simples: é preciso cortar mais 4 000 milhões!
O governo esfregou as mãos. Alguém fez o trabalho sujo por ele. Envaideceu-se. Os que lhe dão ordens, desta vez fizeram-lhe um favor. E, sendo o FMI a dizer que é preciso cortar, não seria o governo o responsável por tão absurda medida.
Depois, era só inventar uma comissão parlamentar para dar cobertura ao crime e já está.
Mas, como sempre, fizeram asneira. O relatório tem erros graves. Ninguém com um mínimo de conhecimentos ou um pingo de vergonha deu qualquer crédito a esta miserável encenação. Um dos autores foi mesmo apanhado num enredo de identidades falsas e outras trafulhices.
Reformar o Estado não deveria ser destruir o Estado. Mas, para o FMI e para o governo, é. E pelo caminho destroem os reformados, desempregam os empregados, matam os famintos e enterram os enfermos. Tudo em nome do défice, da troika e dos mercados.
E, então, voltámos aos mercados! Viva!
Se estavam à espera de manifestações populares de regozijo, enganaram-se. Ninguém percebeu o deslumbrante significado de tamanha conquista do governo e da sua famélica política de austeridade.
O capitalismo financeiro e os seus tentáculos bancários passaram, com êxito, à segunda fase do plano de saque e exultaram. Os governantes também. Está tudo a correr de acordo com os manuais. O povo ainda aguenta mais uns apertos. Afinal a obesidade não é, já, um problema nacional?
Obélix também é obeso. Em Le Devin também ele acreditou no charlatão. Ele e, praticamente, todos os habitantes da irredutível aldeia gaulesa. Como sempre, Astérix não se deixou enganar e o trapaceiro acabou por cair em desgraça. Nem no meio dos romanos se safou.
Fazes-nos falta, Astérix!

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