O país está como está e a
emigração parece ser a solução para milhares de desempregados desesperados.
Tomados por um ímpeto de sobrevivência, a rangerem os dentes de medo e de revolta,
partem à aventura.
Os céus estão cheios de aviões e
os aviões estão cheios deles. São de todas as idades, mas dizem os media que a maior parte são jovens. Os
tais jovens licenciados que fizeram Portugal sair do fim das listas dos países
menos instruídos do mundo ocidental. Agora partem.
A sociedade portuguesa fez um
esforço enorme para os qualificar, gastou mais do que a cautela aconselharia e
agora manda-os partir. E eles partem.
As televisões vão a casa dos que
emigram, ajudam-nos a fazer as malas, metem-nos num táxi para o aeroporto e acotovelam-se
para gravar as despedidas e as lágrimas. Os sites
dos jornais económicos dão dicas sobre os melhores destinos, as burocracias, as
vacinas e o envio das remessas (como soa a bafio esta palavra!).
Os que ficam, aliviados pela
diminuição da concorrência, aconchegam-se na sua cobardia e esperam que a sorte
lhes sorria. Mas o sorriso da sorte é murcho. Tão triste como o sorriso da
morte.
Portugal foi sempre feito pelos
que estão fora. Cresceu de fora para dentro. Os corajosos saem, os fracos
ficam. Este é um país de pobrezinhos agarrados aos destroços da sua
incompetência. Estupidamente obstinados em proteger o que julgam ter
conseguido. Sem qualquer rasgo de génio ou de visão do futuro.
Os que saem, sofrem, mas
libertam-se dos grilhões da tacanhez nacional, da mesquinhez pequena e vil que
putrifica as vontades e dissolve as ténues tentativas de sobrepor a inteligência
à estupidez.
Os que mudaram Portugal, fizeram-no
a partir das Américas, das Áfricas ou das Índias com as mentes dilatadas por
tanto mar e tantas gentes, com as riquezas acumuladas, conseguidas a bem ou a
mal, com o desprendimento apaixonado que só o os que estão longe conseguem ter.
Se os jovens não partissem, e
sendo esta a geração mais qualificada de sempre, teriam a oportunidade
histórica de mudar Portugal por dentro. Mas parece que não sabem que têm essa
força. Têm ferramentas intelectuais e de comunicação que nunca outros antes
deles tiveram. Usam-nas, é verdade, mas de forma inconsequente. Falta-lhes o cimento que poderia torná-los indestrutíveis: a ideologia.
A sociedade perde muito com a sua
saída. Aos governos até convém. É mais fácil dominar estúpidos que
inteligentes. E ao capitalismo troglodita também: é mais fácil explorar
ignorantes dóceis que pensantes orgulhosos.
Mas, ao contrário das gerações
que ao longo dos séculos partiram, esta não fará o país crescer.
O país morrerá todos os dias um
pouco mais. Triste por os seus mais promissores filhos o terem abandonado. Com
saudades dos dias em que projetou neles grandes esperanças.
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