O país está em transe. O presidente Cavaco vê-se aflito para viver com a reforma e tem de mexer nas poupanças para dar conta das despesas.
Tudo isto seria normal se o presidente fosse um português comum. Embora os portugueses comuns não tenham poupanças e tenham de se desenrascar com os ordenados e as reformas roídos pelos cortes.
Mas o presidente não é um português comum. É o português que os portugueses escolheram para o cargo mais alto da nação. Representa a república, garante a independência nacional, a unidade do estado e o regular funcionamento das instituições democrática e é o chefe supremo das forças armadas. Não é, pois, um português comum.
Mas comporta-se como se de um português comum, e chico-esperto, se tratasse.
As reformas deveriam ser para os reformados. Mas Cavaco quis continuar na vida ativa e tem esse seu direito. Terá pensado em arredondar a reforma com o vencimento de presidente.
Trocaram-lhe as voltas. A lei obrigou-o a optar. Claro, escolheu opção mais vantajosa: optou pela reforma em detrimento do vencimento. O valor da reforma é superior ao vencimento de presidente.
E por esta decisão se percebe toda uma forma de estar na vida e de desempenhar o papel de presidente. Prescindiu do vencimento de presidente, não por altruísmo, mas por interesse. Caso não o fizesse, ficaria a ganhar menos do que se passasse os dias no jardim a bronzear-se.
E esta é a questão fundamental: qual é a respeitabilidade de um presidente que escolhe não ser remunerado pelas funções que efetivamente exerce porque o valor do vencimento que lhe corresponde não é suficientemente alto? E que, por isso, prefere receber a reforma, de valor superior, sabendo que não está efetivamente reformado?
E depois ainda vem, publicamente, assumir que é um sacrificado e que o valor da reforma não lhe chega para as despesas.
Mas, sabendo-se que essas despesas não serão certamente as despesas inerentes o cargo – que serão sempre assumidas pela presidência da república -, que outras despesas serão? É que esta situação nos deixa angustiados, pois caso não fosse presidente, e tendo que se alimentar da sua reforma, teria ainda muito mais dificuldades. O que é preocupante.
Por decoro, não vou aqui falar em valores. Já foram excessivamente expostos, esmiuçados e, obviamente, desancados. Infelizmente, não pela razão nobre da denúncia das injustiças, mas porque a inveja nacional, estimulada pela crise, assumiu esse papel.
Em suma, temos um presidente reformado que exerce a presidência à borla vê-se aflito para pagar as contas. Este homem deveria ser reconhecido, idolatrado, endeusado. A sua abnegação é exemplar. Um exemplo a seguir. (Lembrei-me agora que afinal o exemplo já foi seguido. E logo pela presidente da assembleia da república. Por coincidência, a segunda figura do estado. Agora não me lembro quem é a terceira…)
Sem comentários:
Enviar um comentário