segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Síndrome de Estocolmo

Este blogue foi criado no dia da assinatura do acordo de concertação social entre o governo e alguns parceiros sociais. Triste sina.
O tresloucado capitalismo financeiro de índole ultraliberal que tem mandado no mundo, com os resultados que estão à vista, conseguiu, via troika, pôr de joelhos os desorientados portugueses.
Será um lugar-comum dizer que este é o maior retrocesso nos direitos dos trabalhadores desde o tempo do fascismo. E é verdade.
Nunca, como agora, e de uma só vez, se rasgaram tantos compromissos, se renegaram tantos princípios, se desonraram tantas lutas.
Dir-me-ão que os tempos são outros, que sem estas medidas não conseguiremos cumprir o que foi acordado. Enfim, que não poderemos pagar as dívidas e seguir em frente.
Parece claro. Mas não é. Esquece uma coisa muito simples: a dívida é uma fraude. Ninguém no seu juízo perfeito acreditará que o país deve aquele dinheiro todo.
E mesmo que o consiga pagar, o que é altamente improvável, a economia terá atingido o ponto mais baixo, desde a invenção da roda.
Que os mercados, as agências de rating e o capitalismo financeiro são completamente insensíveis a qualquer valor social já se sabia, que a ganância é a sua alma, também, mas que os governos – supostamente em nome do povo – e os sindicatos – supostamente em nome dos trabalhadores – acreditem nisso, é que é triste.
O mundo está na mão de umas dúzias de doidos que se divertem a enriquecer com dinheiro que não existe, porque são eles que o multiplicam de forma artificial, mas que nos convencem que existe, que nós o devemos e que temos de o pagar. A quem? A eles.
Tudo o resto não lhes interessa. Mas há um problema: as pessoas.
As pessoas, sim. Os seres humanos. Seres sensíveis e com necessidades básicas. Com uma enorme capacidade de sacrifício, de sofrimento, de compreensão. Sim, esses. Que um dia se fartam, se revoltam, destroem e matam e morrem, por alguma coisa, ou por nada.
Que os governos e alguns sindicatos não percebam isto, é que me admira. Ainda não perceberam que têm de pôr os pés à parede e dizer não?
A ingenuidade e a estupidez não justificam tanta subserviência. O medo do caos não justifica tanta irresponsabilidade.
Proponho uma explicação para o comportamento da generalidade dos representantes do povo e dos trabalhadores: eles sofrem do Síndrome de Estocolmo.
Apresentam um estado psicológico semelhante ao das pessoas que são vítimas de sequestro, em que a vítima desenvolve sentimentos de lealdade para com o sequestrador apesar da situação de perigo em que se encontra.

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